Elas no comando: como abordar o empreendedorismo feminino no ambiente da escola

Você sabia que, segundo pesquisa […]

24 de agosto de 2023

Você sabia que, segundo pesquisa realizada pelo Movimento Aladas em parceria com o Sebrae São Paulo, durante a pandemia, 33% dos novos negócios foram abertos por mulheres? Mais que isso: com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, o número de mulheres à frente de um empreendimento no país fechou o quarto trimestre de 2021 em mais de 10 milhões?

Apesar de os números serem surpreendentes, inúmeras barreiras ainda são encontradas pelo público feminino no momento de iniciar uma carreira no campo do empreendedorismo. Entre as grandes e mais recorrentes dificuldades estão a falta de inclusão e a desigualdade, temas debatidos com muita frequência, mas que ainda não têm práticas capazes de uma transformação social tão rápida quanto a desejada. Para se ter ideia, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas demonstrou que a participação das mulheres no mercado de trabalho é 20% inferior à dos homens.

Além disso, os filhos representam um ponto sensível para as mulheres que querem se lançar ao mercado à frente de seus negócios. Segundo o IBGE, com foco em relações de trabalho, o nível de ocupação das mulheres sem filhos de até 3 anos de idade era de 67,2%. Já entre as mulheres que são mães de filhos nessa faixa etária, o índice caiu para 54,6%. Este dado é ainda menor entre mulheres pretas e pardas com filhos de até 3 anos, cuja ocupação passa a ser de apenas 49,7%. Após sabermos disso, é importante compararmos os números com a presença dos pais no mercado: segundo essa mesma pesquisa, homens que possuem filhos pequenos possuem maior presença (89,2%) do que os que não possuem filhos (83,4%).

Apesar desses números já validarem a percepção de que se trata de uma jornada mais difícil para as mulheres, outro fato foi levantado pelo estudo: as mulheres dedicam 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, quase o dobro do tempo dedicado pelos homens, algo na casa das 11 horas semanais. Desta forma, é possível enxergar claramente que há uma dupla jornada, contribuindo diretamente para que as mulheres fiquem mais sobrecarregadas e, também, que doenças psicológicas sejam mais frequentes entre o público feminino. Segundo a chefe do serviço de psicologia do HCor, Silvia Cury, o nível de estresse apresentado pelas mulheres pode superar o dos homens, causando desequilíbrio hormonal e acarretando em: 

  • Menstruação desregulada
  • Acne
  • Perda de cabelo
  • Má digestão
  • Depressão
  • Insônia
  • Ganho de peso
  • Diminuição da fertilidade
  • Problemas no coração

Pensando nisso, é importante que as políticas públicas estejam atentas aos dados e atuem para que os números avancem de maneira digna, assim como acontece na Espanha, por exemplo: a igualdade de gênero é um tema relevante por lá e a licença maternidade e paternidade começaram a ser equiparadas no país. Em âmbito macro, a solução também pode começar dentro das escolas por meio da abordagem do empreendedorismo feminino e o trabalho com os alunos para que estejam preparados para atuar no mercado de trabalho futuramente. Para iniciar essa conversa, primeiramente, temos que saber o que é, de fato, o empreendedorismo feminino: 

Basicamente, o empreendedorismo feminino é tudo que envolve as empresas criadas ou idealizadas por mulheres. Atualmente, segundo dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), quase metade dos pequenos negócios no Brasil são liderados por mulheres e esses negócios impactam diretamente a vida das famílias brasileiras. Conforme essa mesma pesquisa, mais de 40% das empreendedoras sustentam suas famílias com a renda originária no negócio e procuram investir o dinheiro na educação dos filhos e no bem-estar da família.  

No dia 19 de novembro, é comemorado o Dia do Empreendedorismo Feminino, data criada pela Organização das Nações Unidas em 2014 com o objetivo de valorizar as mulheres empreendedoras. Sendo assim, esse é um ótimo momento para começarmos a introduzir dinâmicas que estimulem o empreendedorismo nas instituições de ensino. Agora que você já sabe o que significa esse termo e qual a sua importância, vamos descobrir, juntos, a importância de implementar esse tema no dia a dia da sua escola?

Trabalhar o empreendedorismo com os alunos é essencial para que eles sejam estimulados a desenvolver ações e a encontrar soluções para que os seus objetivos sejam alcançados. Além disso, contribui para que os estudantes passem a trabalhar com planejamento e metas, favorecendo para que estejam preparados para enfrentar os cenários contemporâneos que demandam, cada vez mais, a capacidade de tomar decisões, o senso crítico, a autonomia e a confiança. Em outras palavras, estamos dizendo que o empreendedorismo desenvolve as competências socioemocionais capazes de capacitar crianças e adolescentes para administrar suas próprias emoções e lidar de maneira estratégica com seus conflitos. Aliás, convidamos você para ler um artigo publicado em nosso blog sobre esse tema tão importante. É fácil: clique aqui e confira!

Recorte de gênero e a sua importância em uma sociedade que perpetua formas de iniquidade 

Não há dúvidas de que tratar o tema do empreendedorismo com toda sala é fundamental, porém, faz sentido criar uma segmentação na temática para privilegiar a perspectiva da mulher em relação ao tema. Além de abrir espaço para que se possa tratar dos desafios ligados, por exemplo, ao machismo estrutural e como isso impacta as relações de trabalho e o mundo dos negócios, é possível cocriar modelos mentais que enderecem pautas mais conectadas ao universo feminino. Ao entendermos que empreender é, em resumo, uma maneira de solucionar problemas, expandir o campo de visão das garotas vai intensificar a sua capacidade de criarem alternativas para situações que as afetam em maior escala.  

Outra estratégia interessante é a de apresentar para a turma empreendedoras inspiradoras, uma vez que, em geral, a palavra empreendedorismo está associada a personalidades masculinas – como acontece em muitas outras situações. A ideia de representatividade é muito valiosa e os efeitos de sua prática são potentes e transformadores. Busque entender quais nomes mais terão impacto na turma e fale das mulheres que, por meio do empreendedorismo, têm transformado o mundo! Dica: explore nomes locais, da cidade ou região em que está a escola. Isso vai trazer ainda mais para perto a possibilidade de enveredar por esse caminho.

 

Mas, afinal, de que maneira o empreendedorismo pode ser trabalhado em sala de aula?  

Em alguma medida, falar de empreendedorismo é falar sobre um estilo de vida em que o principal objetivo é solucionar problemas, desafios para a nossa vida cotidiana. Inclusive, ao longo de sua jornada, empreendedores podem mudar de foco e, assim, passam a atuar em outras temáticas. Aqui, dois ótimos exemplos são Jeff Bezos e Elon Musk, cuja trajetória abrange iniciativas que vão de uma livraria on-line (a ideia inicial da Amazon) às viagens ao espaço capitaneadas pela Blue Origin e a SpaceX.  

Pensando nisso, decidimos apresentar ideias e ações que podem, juntas, estimular as mentes da escola em torno do empreendedorismo. Aqui, estamos falando de possibilidades que se conectam a todos, independentemente de gênero. Como acontece nas mais variadas disciplinas, é importante que os alunos sejam estimulados por meio de metodologias capazes de desenvolver suas habilidades essenciais em torno do empreendedorismo, abrindo as portas para o futuro. Três bons convites para isso são: 

1- Gamificação 

Por meio de jogos educativos, a atenção dos pequenos é retida e proporciona um aprendizado mais sólido. Além disso, os games promovem a socialização, o trabalho em equipe, competições e os estudantes são premiados de acordo com o desempenho apresentado na dinâmica. Cada brincadeira acaba sendo um novo desafio e favorece para que competências extremamente importantes no mundo corporativo como criatividade, comunicação, persistência e sendo crítico sejam desenvolvidas.    

2- Aprendizagem baseada em projetos 

Com esse artifício, os estudantes são colocados em contato com o aprendizado por meio da resolução de problemas. Primeiramente, um desafio é exposto aos alunos permitindo que eles façam pesquisas sobre o tema. Em seguida, é necessário levantar hipóteses, buscar soluções e, por fim, realizar uma apresentação. Essa metodologia é capaz de estimular o trabalho em equipe, o pensamento crítico e desenvolve o diálogo.  

3- Design Thinking  

Com base na resolução de problemas partindo de uma visão criativa que busca abordar diversas possibilidades, o Design Thinking é um processo composto por cinco etapas que colocam as pessoas no centro da resolução do problema e as envolve de maneira geral. São elas: 

  • Imersão 
  • Análise e planejamento 
  • Ideação 
  • Prototipação e validação 
  • Implementação 

Além de realizar pesquisas, os estudantes elaboram e testam hipóteses, executam protótipos da solução escolhida e as colocam em prática. O mais legal dessa proposta é que tudo deve ser construído em conjunto. Afinal, várias cabeças pensantes trabalham muito melhor do que uma, não é mesmo? Desta maneira, os estudantes são desenvolvidos em diferentes âmbitos: desde a criatividade e a análise de problemas, até o poder de decisão, a paciência e a empatia.  

Agora que você já sabe como estimular as habilidades necessárias para que os cidadãos da nossa comunidade escolar se tornem empreendedores de sucesso, chegou a hora de saber como abordar o tema em sala de aula! Vem com a gente! 

1- Feira do Empreendedor 

Segundo matéria publicada pelo Sesc, em 2019, as Escolas Sesc de Xanxerê, Chapecó, Concórdia, São Miguel do Oeste, Lages, Rio do Sul, Brusque, Palhoça, Jaraguá do Sul, Joinville, Itajaí e Criciúma promoveram a Feira do Empreendedor 

Essa atividade foi desenvolvida com os alunos do Ensino Fundamental Anos Iniciais em parceria com o Sebrae Santa Catarina. Além dos pequenos terem sido estimulados ao longo do ano para que as habilidades fossem trabalhadas, os estudantes vivenciaram as etapas de um plano de negócio. 

Em seguida, cada turma montou suas próprias “lojas”, confeccionaram seus produtos, comercializaram no evento e tiveram 100% de contato com o empreendedorismo. Resultado? Sucesso! Segundo o Sesc, as feiras receberam mais de 6 mil visitantes e ao total foram arrecadados mais de R$ 42.000,00 com o aluguel e a venda dos produtos.  

Incrível, não é mesmo? Essa é uma ótima alternativa para trabalhar o empreendedorismo em sala de aula. Para te ajudar nessa missão, anote algumas dicas: 

  • Crie feiras temáticas  

Que tal realizar feiras natalinas? Ou vender chocolates na Páscoa? Aproveite esses momentos agitados no comércio para inspirar os alunos e permitir que coloquem as ideias em prática. Neste momento, sugerimos trabalhar a confecção de guirlandas ou até mesmo produzir ovos de Páscoa, de acordo com a grade das disciplinas e a estrutura da escola.  

  • Hortas e pomares 

Além de estimular o empreendedorismo, podemos trabalhar, ao mesmo tempo, outros aspectos importantes, como o contato com a sustentabilidade. Para isso, plante com os pequenos frutas, legumes ou até mesmo temperos. Em seguida, promova uma feira para que os alimentos sejam comercializados.  

  • Trabalhe a recompensa 

Assim como na vida adulta, todo pequeno trabalhador aguarda a sua recompensa no final de um ciclo de trabalho. Para que esse tópico não fique de fora da experiência das crianças, trabalhe a recompensa! Além de dividir o lucro, a escola pode colocar como objetivo um passeio cultural pago com o valor arrecadado ou até mesmo estipular metas para ajudar ONGs com o lucro gerado. A ideia aqui não é a circulação de dinheiro, mas, sim, a criação de uma noção de que os esforços geram valor que podem fazer a diferença inclusive no bolso. 

Desta maneira, os alunos se sentem mais estimuladas e o engajamento será ainda maior.  

  • Educação financeira 

Não tem como falarmos de feira do empreendedor sem passarmos pelo tópico de educação financeira. Trazer este tema em sala de aula é crucial para o desenvolvimento dos alunos, afinal, eles irão trabalhar com conceitos básicos como troco, lucro, promoções e muito mais.  

Além de desenvolver uma postura mais madura em relação ao empreendedorismo, a educação financeira também pode abordar temas como formas de economizar, gastos e até mesmo investimentos no caso dos alunos mais velhos. Sendo assim, acaba por preparar os estudantes para lidarem com diversas situações da vida adulta, seja ele um futuro empreendedor ou não.   

2- Jogos e brincadeiras 

O uso de jogos como os famosos Banco Imobiliário e Jogo da Vida é uma ótima alternativa para que as turmas sejam colocadas em contato com termos financeiros. Além de ser um momento de aprendizado, as crianças passam a ter situações lúdicas durante o processo de ensino. Desta maneira, sentem-se muito mais estimuladas e o envolvimento passa a ser considerável.  

3- Visita ao comércio 

Que tal realizar um passeio no mercado da região? Para isso, estipule um valor que cada criança deve levar e, para deixar a atividade mais atraente, peça aos pais para que criem uma lista de compras. Desta maneira, as crianças terão que comprar os itens que foram estipulados com o dinheiro que possuem em mãos. Com isso, terão a experiência de realizar uma compra sozinhos e conseguirão colocar em prática assuntos como troco, economia de gastos e até mesmo matérias aprendidas nas aulas de matemática, como adição e subtração.  

Dicas anotadas? Agora, é hora de reunir a turma e abordar o tema! Além de estimular os nossos alunos a se tornarem futuros empreendedores, estaremos, juntos, transformando o mercado de trabalho: dando oportunidade às mulheres, que hoje são apenas crianças e adolescentes, a serem líderes e donas do seu próprio negócio.