Como promover o protagonismo dos alunos no processo de formação autônoma?

Você já viu um gato […]

7 de setembro de 2023

Você já viu um gato arquear as costas e eriçar os pelos para parecer maior e mais assustador para um inimigo em potencial? E um peixe nadar rapidamente para se esconder em um recife de coral quando um predador se aproxima? Há ainda os pássaros fingindo estarem feridos para atrair a atenção de outro animal para bem longe de seu ninho e filhotes. Para fechar, pense em uma mãe humana que, ao chegar na faixa de pedestres, instintivamente, pega seu filho no colo para atravessar a rua.

Todas essas cenas são exemplos de como os animais possuem um comportamento protetor engendrado em seu DNA. Isto é, uma resposta natural e instintiva que ajuda os seres vivos a se protegerem de ameaças e perigos, percebidos ou reais, e a manterem a si mesmos e as suas crias seguras. No caso dos seres humanos, o instinto protetor pode se manifestar de várias formas, como quando uma pessoa protege um ente querido de um perigo iminente, ou quando alguém tenta evitar um acidente ou situação potencialmente perigosa. Também pode se manifestar em situações de emergência, quando um indivíduo age rapidamente para ajudar quem está em perigo.

O instinto protetor é, muitas vezes, associado com o cuidado parental, pois os pais desenvolvem com o tempo um forte sentimento de proteção aos filhos, criando mecanismos para mantê-los seguros nos diferentes aspectos que esse conceito toma. No entanto, trata-se de um traço que também pode ser observado em outras relações interpessoais, como entre amigos, professores e colegas de trabalho. Em suma, estamos falando de momentos em que as pessoas sentem uma necessidade de proteger umas às outras.

Mas por que estamos falando em instinto protetor? Este é um assunto que, à primeira vista, pode parecer não ter uma relação tão direta com a escola. Entretanto, este estímulo interior e inconsciente que nos impulsiona a agir segundo as nossas necessidades de defesa e de preservação, pode ser perigoso: em vez de ajudar os mais novos a se desenvolverem, podemos deixá-los impedidos de seguirem um caminho de cuidado e autoconfiança.

Tomemos como exemplo o caso mencionado acima, de uma mãe que pega a criança para atravessar a rua. Será que esta é realmente a melhor forma de protegermos os nossos filhos? Pensemos para além daquele momento, focando nossa reflexão para a trajetória das crianças. Será que em uma situação de emergência, o ser em formação saberia como passar de uma calçada para outra em segurança sem o auxílio de um adulto? É importante dizer que estamos considerando um contexto em que isso poderia ser feito com segurança, incluindo o fator idade para a personagem que propusemos.

Vamos pensar em uma alternativa: e se, ao invés, de pegar a criança apta a cruzar a rua no colo, a mãe parar na frente da faixa de pedestres e ensinar seu filho pequeno a esperar o sinal correto do semáforo, olhar para os dois lados antes de atravessar e, em seguida, segurar sua mão enquanto caminham juntos, demonstrando o ritmo e a direção da travessia? Esta situação pode acontecer repetidas vezes, até que um dia, a mãe não segura mais a mão do filho e os dois caminham lado a lado: esta mãe está ensinando o pequeno e encorajando-o a agir autonomamente.

Promover a autonomia dos alunos pode ser uma tarefa desafiadora, porém é parte importante da educação: ajuda a prepará-los para lidar com obstáculos e a tomar decisões por conta própria, de maneira autônoma. Desta forma, os estudantes aprendem, desde a Educação Infantil, a liderarem suas próprias escolhas. De forma consciente e confiante, encorajar os alunos a serem protagonistas de suas próprias histórias é incentivá-los a criarem trilhas durante toda a sua formação escolar, iniciando esse processo desde a Educação Infantil e, por fim, poderem alcançar os objetivos que definiram para si mesmos na sua vida inteira, seja no âmbito profissional ou pessoal.

 

Mas como fazer isso?

Antes de trazermos dicas pragmáticas é de extrema importância lembrar que cada aluno é único, com uma história de vida prévia, com habilidades e competências desenvolvidas de acordo com suas individualidades e, portanto, pode responder de forma diferente às mais variadas abordagens. Sendo assim, é importante ser flexível e adaptar as estratégias tendo como base as necessidades individuais de cada um. Vamos lá?

 

Estabeleça metas claras

Ajude os alunos a estabelecerem metas realistas e alcançáveis, para que possam trabalhar de forma independente para atingi-las. Aqui, vale reforçar que o próprio aluno possui responsabilidade por aquilo que almeja conseguir, portanto, é fundamental esclarecer que os alunos podem pedir ajuda, quando necessário: apesar de haver o incentivo para que ele aja de forma independente, sempre é possível contar com o suporte do professor e dos colegas; ele não está sozinho!

 

Dê liberdade de escolha

Ofereça aos alunos opções para escolherem os tópicos de suas pesquisas, trabalhos, temas de redação, permitindo que eles se sintam responsáveis pelo seu próprio aprendizado. Uma boa forma de incentivar este tipo de autonomia é convidá-los a escolherem o conteúdo que desejam aprender. Como a interdisciplinaridade e o aprendizado integral são elementos desejados pela escola, o professor pode inserir atividades que adaptem o currículo tradicional, recheando-o de tópicos em relação aos quais os estudantes tenham curiosidade genuína. Um exemplo é inserir na sala de aula uma espécie de caixinha de sugestões de temas. Assim, os alunos podem trazer assuntos e temas que gostariam de explorar. Este tipo de iniciativa pode incentivar a escolha e despertar a motivação e o interesse, ajudando-os a se sentirem criadores no centro e no controle de seu próprio aprendizado.

 

Incentive a participação ativa

Crie oportunidades para que os alunos possam assumir, de forma prática, o controle de sua aprendizagem, como por exemplo, projetos, apresentações, desafios. Incentive-os a fazerem perguntas e a buscarem respostas por conta própria. O professor deve fornecer ferramentas, tecnologia e um ambiente convidativo para a exploração e a experimentação. A ideia é que o aluno seja motivado a deixar a postura passiva de lado, dando vida a uma rotina de participação autêntica e criativa. Neste modelo de atividade, o professor pode ajudar os alunos a encontrarem soluções para os problemas e avaliá-las, verificando se estão compatíveis ao que se é esperado ou se é necessário realizar intervenções. É importante destacar que quando o aluno é protagonista, o erro não deve ser reprimido, mas acolhido como parte do processo de aprendizagem. Esta estratégia corrobora com o desenvolvimento das habilidades de responsabilidade e resolução de problemas: os estudantes devem ser autônomos na realização de tarefas, encorajados a serem independentes.

 

Incentive a colaboração

Promova atividades que sejam realizadas entre alunos, desde trabalhos em grupo até debates. O trabalho em equipe fomenta a aprendizagem conjunta, dando a oportunidade de que os estudantes aprendam uns com os outros, tendo como premissa uma participação ativa, valorizando a experimentação e a tomada de decisões. O processo colaborativo pode contribuir para que o aluno perceba suas próprias qualidades e dificuldades, é uma oportunidade de colocar em prática habilidades, experimentando situações que podem ser, ao mesmo tempo, divertidas e desafiadoras.

 

Forneça feedback construtivo

Incluir etapas regulares de retorno para os estudantes é uma maneira de contribuir para que possam avaliar seu próprio progresso e identificar áreas onde precisam melhorar. É uma forma de trabalhar a capacidade de receber elogios, e, também, de receber críticas. Embora possa ser uma atividade desafiadora tanto para o professor quanto para o aluno, é de grande relevância perceber os pontos que devem ser valorizados e aqueles que precisam ser aperfeiçoados. Além de contribuir para a vida dentro da escola, este tipo de iniciativa ajuda que os alunos desenvolvam a autoconsciência e a capacidade de autorregulação.

Ao colocar os alunos como protagonistas do processo de ensino-aprendizagem, os educadores contribuem não só para a formação individual dos alunos, mas, também, para uma sociedade de indivíduos confiantes e independentes, que saberão tomar decisões e agir positivamente. Sendo assim, o convite é para ficarmos atentos para colocarmos aqueles que estão aprendendo no centro das nossas atenções, e soltar a mão no momento em que percebemos que estão preparados e seguro.