Um olhar afetuoso para o passado e atenção ao futuro das crianças: a importância das habilidades sociemocionais

Após um longo ciclo de […]

6 de abril de 2023

Após um longo ciclo de imersão nos efeitos da pandemia e de ensino remoto, é possível notar que as crianças e os adolescentes voltaram para a sala de aula diferentes. As justificativas para isso são inúmeras e passam, por exemplo, pelo uso em excesso das telas e a falta de contato físico com outras pessoas, especialmente os pares. Todo o cenário acarretou uma série de complicações e desafios que deverão ser trabalhados nos próximos anos, como: insegurança, falta de disposição, ruídos de comunicação, dificuldade para o desenvolvimento de habilidades ligadas à oralidade e vocabulário reduzido.

Sabendo disso, o momento pede que as escolas foquem, ainda mais, nas habilidades socioemocionais para que esses e outros obstáculos sejam ressignificados. Mas, caso ainda não tenha familiaridade com o tema, a pergunta que fica é: o que são as habilidades socioemocionais? Vamos descobrir! 

A Base Nacional Comum Curricular, BNCC, aconselha que todas as organizações educacionais do Brasil devam incluir as habilidades socioemocionais em seus currículos para garantir o processo de formação integral dos estudantes. Basicamente, essas competências fazem com que os alunos trabalhem aptidões relacionadas à inteligência emocional, um conceito que já foi muito popular no universo corporativo. Aliás, apesar de estarmos falando das instituições de ensino, trata-se de um tema que vai muito além dos anos de formação, reverberando em todos os aspectos da vida de um indivíduo.

Algo que é pouco discutido é o fato de as habilidades socioemocionais também poderem ser trabalhadas para reparar o passado. No caso, amenizar e sanar diferentes adversidades que o período de isolamento trouxe para as nossas crianças. Pensando em tudo isso, o UNO Educação reuniu algumas das habilidades que devem ser abordadas em sala de aula e ideias de como fazer isso com sucesso!  

COMUNICAÇÃO 

A comunicação sempre foi uma competência essencial para o desenvolvimento dos alunos, uma realidade que se torna cada vez mais concreta à medida que a tecnologia aumenta tanto a velocidade como a intensidade das interações humanas. Além de favorecer a colaboração entre os seres, aspectos da oralidade são aprimorados e o vocabulário passa a ser explorado como uma fonte de conexão com o mundo e um caminho para expressar ideias e sentimentos. Então, os professores podem realizar rodas de conversa e posicionar a leitura como ponto de partida para a elaboração de argumentos, sínteses, invenção e debates sobre o enredo.

CRIATIVIDADE 

Sabe quando falamos “sair da caixa”? A criatividade é uma habilidade que estimula os estudantes a saírem de sua zona de conforto e a terem diversas ideias ou até mesmo soluções para algum problema do cotidiano. Então, que tal iniciar uma história e pedir para que cada aluno escreva o final ou partes que se conectam à medida que há um revezamento entre as pequenas e os pequenos autores? Essa é uma ótima forma de estimular uma competência que, no fim do dia, é composta por uma série de atributos que se combinam frente ao estímulo proposto. Trazer projetos e problemas também é uma alternativa interessante! Por exemplo, converse com os alunos sobre o desperdício de água e proponha que eles tragam soluções para combater esse problema. Além de trabalhar a criatividade, o professor também pode explorar outras duas competências: a comunicação e a confiança, pedindo para que o estudante apresente seu projeto em sala de aula, presencialmente ou via ferramentas de comunicação remota. Neste momento, que pode parecer simples, os alunos têm a oportunidade de superar obstáculos como a vergonha, tornando-se uma pessoa mais confiante e comunicativa. Para se aprofundar mais no assunto, sugerimos a publicação Desenvolvimento da Criatividade e do Pensamento Crítico dos Estudantes – O que significa na escola”, que foi publicada pela Fundação Santillana em parceria com o Instituto Ayrton Senna.

AUTONOMIA 

A autonomia é a capacidade de se autogerenciar, ou seja, tomar suas decisões e assumir responsabilidades. Para trabalhar essa habilidade em sala de aula, os professores podem abordar a estratégia de sala de aula invertida que proporciona aos alunos uma postura mais ativa nos estudos: uma parte do conteúdo passa a ser estudado em casa, o que abre espaço para que os professores explorem mais atividades colaborativas no momento presencial. Desta maneira, cada estudante gerenciará o horário de estudo, irá decidir quais ferramentas irá utilizar para estudar – livros, vídeos, artigos, entre outros – e se tornará protagonista da sua jornada de aprendizagem.

AUTOCONHECIMENTO E AUTOCUIDADO 

Conhecer as emoções, entender seus sentimentos e reconhecer emoções nos outros são alguns ganhos que os estudantes adquirem ao trabalhar essas duas competências. Com as crianças do Educação Infantil, por exemplo, os professores podem apresentar aos pequenos quais são os sentimentos por meio de figuras. Utilizando materiais lúdicos, os alunos começam a entender as emoções e passam a reconhecê-las em si mesmos.  

Com alunos mais velhos, os professores podem pedir para que realizem um círculo da vida. Basicamente, essa ferramenta é uma maneira visual de trabalhar o autoconhecimento. Peça para os alunos desenharem um círculo separado em seis categorias. Depois, solicite para que cada parte seja uma área importante de sua vida, como: família, saúde, estudos, cultura, amigos e saúde mental. Em seguida, divida cada bloco em 10 partes, desta maneira: 

 

Exemplo de círculo da vida. Você pode usar essa imagem como base para fazer na sua escola.

Marque zero no centro e dez na borda. Com o círculo pronto, peça aos alunos para pensarem sobre cada tema e pintarem a quantidade de faixas de acordo com a nota que eles dariam para cada esfera. Por exemplo: se o aluno reconhecer que não está tendo um bom desempenho na escola, ele pode pintar 5 faixas deste bloco. Mas, se ao mesmo tempo, está praticando atividade física, realizando check-ups e cuidando da saúde, desta maneira, poderá colorir as 10 faixas do bloco “saúde”. 

No final, o círculo deve estar todo preenchido, ficando assim: 

Exemplo de círculo da vida pintado.

A partir deste momento, converse com os alunos com o objetivo de trazer reflexões. Ou seja, ajude-os a pensar em soluções para aumentar as notas que foram atribuídas. Importante: deixe claro que nem sempre iremos conseguir ter nota 10 em todos os temas. Isso porque “equilibrar os pratinhos” não é uma tarefa fácil. Sendo assim, comunique que o objetivo dessa atividade é fazer com que cada indivíduo dê o melhor de si dentro de suas possibilidades.  

EMPATIA 

A empatia é a capacidade do estudante de se colocar na situação em que o outro se encontra. Para isso, a escola pode realizar atividades sociais, como doações e arrecadação de alimentos e roupas, apresentando aos alunos situações diferentes das que são vivenciadas por eles, como a vulnerabilidade.  

Agora que você já conheceu algumas das habilidades socioemocionais que podem ser trabalhadas em sala de aula, chegou a hora de colocar em prática essas ideias e preparar os estudantes para o futuro, afinal, desafios serão encontrados ao decorrer do caminho e a competitividade do mercado do trabalho e outras situações complexas da sociedade contemporânea requerem pessoas cada vez mais preparadas psicologicamente. E, claro, reparar o passado, ajudando as crianças e os adolescentes a fortalecerem suas competências e recuperar suas perdas.